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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

PASSEANDO PELA RUTA JESUÍTICA

DIA 8 DE JANEIRO DE 2012 - comecei minhas atividades turísticas bem cedo, para aproveitar ao máximo o dia de hoje. A Ruta Jesuíta abriga 15 ruínas das reduções guaranis e tem início nas imediações de Bella Vista, no Paraguai, cerca de 70 km da fronteira com a Argentina, e se estende por outros 70 km no território argentino. Hospedei-me em Bella Vista, na Villa Florida, que fica pertinho das cidades de Jesus e Encarnación, esta última fundada pelo padre jesuíta Roque de Santa Cruz, canonizado pela Igreja Católica (não é o jogador de futebol). Vamos lá ao tour de hoje, pela ordem de visitas:

Missão Jesus de Tavarangué (Paraguai)
a) O ciclo jesuítico no Paraguai teve início tardio, no início do século XVIII, diferentemente do Brasil, onde os jesuítas começaram a chegar 50 anos após o Descobrimento. A missão de Jesus de Tavarangué, a primeira da minha lista de visitas, durou apenas 10 anos, entre 1758 e 1768, época em que os bandeirantes (vindos do Brasil) expulsaram os jesuítas desta região. Talvez seja a menor missão dentre as existentes na América do Sul. Eu não sabia nada disso antes de ir até lá. Havia pensado em reservar algo em torno de 2 h para visitar cada uma dessas localidades, mas na de Jesus mal precisei de 50 minutos para um tour completo, acompanhado pela única guia do local, chamada Vanessa. Quando saí de lá, pouco antes das 9 h, a temperatura estava em 42 graus. Vale lembrar que o local, assim como todas as demais ruínas por onde passei, foram consagradas como Patrimônio da Humanidade pela Unesco.
b) Sensação de Dejavu - foi impressionante o dia de hoje, porque tive a sensação permanente de ter estado nesses locais antes. Essa sensação se repetiu dezenas de vezes nas três primeiras missões que visitei durante o passeio pela Ruta Jesuítica. Curiosamente, o dejavu não ocorreu na quarta missão que estive, a de San Ignácio na Argentina, a única que eu conheci de fato durante a viagem que fiz ao Atacama em 2007, com a Rosane e o Paulo Amaral.

(fotos das ruínas de Jesus de Tavarangué)

(cabelinho estilo galo Carijó - não sei como isso aconteceu)






Missão de Trinidad del Paraná (Paraguai) 
a) Segui de Jesus para a ruta 6, rumo à missão de Trinidad, uma das mais belas do Paraguai. Este local sim é enorme e foi fundado no início do século XVIII (parece que no ano de 1708). Também fechou suas atividades em 1768, por conta da expulsão dos jesuítas. A sensação térmica estava em 48 graus, medida pelo aparelho skywatch (de alta precisão). O local é cercado por árvores centenárias, mas a ausência de ventos durante o dia não permitiu que a temperatura baixasse. Foi um passeio relativamente difícil por conta deste detalhe. Tive que parar por diversas vezes sob a sombra de alguma árvore para suportar a caminhada de um pouco mais de 2 horas pelo local.
b) Depois desta visita, voltei à pousada onde estava hospedado, tomei um longo banho frio e almocei frugalmente no próprio restaurante do hotel. Depois de um cochilo de 45 minutos, arrumei as malas e subi na moto em direção à fronteira argentina, que fica acerca de 70 km do hotel. A ruta jesuítica é bastante legal neste sentido, porque se trata de um deslocamento relativamente pequeno, mas com grande densidade cultural por conta das muitas ruínas existentes em seu derredor.

(fotos de Trinidad)


(sensação térmica de 48 graus positivos)






Missão de Santa Ana (Argentina) -
Atravessei a fronteira pela belíssima ponte sobre o rio Paraná, que separa as cidades de Encarnación e Posadas (ambas fundadas por jesuítas). Santa Ana fica 45 km de Posadas, e foi bastante tranquilo chegar lá. A missão teve seu ciclo entre 1660 e 1818. Porém, desde 1633 ela vinha mudando de lugar por causa dos Bandeirantes, mas se instalou definitivamente neste local em 1660. Dizem que é excelente visitá-la à noite, por conta da iluminação hollywoodiana que foi instalada em toda sua área. Diferentemente das missões paraguaias, onde eu era praticamente o único turista, o fluxo de pessoas nas missões argentinas é enorme. Muita gente comprando ingresso para visitá-las.

(fotos de Santa Ana)






Missão de San Ignacio (Argentina) - esta missão é a mais linda de todas e teve seu ciclo entre 1609-1818. Também é a maior e a mais arborizada dentre as que conheci. Parei a moto num estacionamento atrás de um restaurante que fica em frente à entrada da missão. A temperatura estava por volta dos 37 graus, mas sob as árvores a sensação era bastante agradável. Depois de um tour de 2 horas pelas ruínas, deitei-me sobre um banco de madeira à sombra de árvores enormes e fiquei pensando na vida, curtindo um pouco do silêncio, da solidão e de um certo prazer de estar comigo mesmo. Uma situação que raramente consigo vivenciar no dia-a-dia em Brasília. As ruínas são, por si, um local bastante propício à meditação e aos bons pensamentos. Muitas coisas legais passaram pela minha cabeça, mas não acho conveniente compartilhar. Estou ainda na dúvida se cochilei ou se não vi o tempo passar. Mas fui "despertado" por uma senhora alemã, pedindo em inglês para eu tirar uma foto. Havia um grupo de turistas europeus bem idosos ao meu lado e eu nem havia percebido. Talvez eu tenha dormido mesmo e não os vi se aproximando.
b) Fiquei pensando se eu deveria começar a retornar para casa naquele mesmo dia. San Ignacio fica cerca de 250 km de Foz do Iguaçu e seria um deslocamento curto até lá. Pensei, pensei, pensei e decidi subir na moto e seguir para o Brasil. De repente me veio a convicção de que a melhor maneira de cultivar bons pensamentos é colocando a cabeça dentro de um capacete. Isso já havia sido comprovado pelo professor Pardal (dos quadrinhos do Walt Disney) há muito tempo. Sem mais nem menos me lembrei dele. Não era com um capacete na cabeça que ele fazia seus inventos geniais? Sempre sob encomenda do Tio Patinhas?

(fotos de San Ignacio)







6 comentários:

  1. Parabêns Flávio, belas fotos e uma narrativa bem legal sobre as missões. Agora volte com Deus.


    Abraço.
    Zael Batalha- ABNEGADOS\MC

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  2. Lindas fotos e relatos, sei que não é muito fã daquela muvuca paraguaia, mas eu não perderia a oportunidade de comprar alguns artigos para para as motos ou para mim mesmo, GPS, Capacetes etc...
    Boa viagem parceiro!
    Abç
    Gilson

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  3. Glênio10.1.12

    Farinhas!!!

    Aquela primeira foto parece que você está com um moicano, ao estilo Neymar!!!

    Abs!
    Glênio

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  4. Realmente belas fotos e relato, Flávio.

    Valeu e boa viagem de volta.

    Abç
    Max
    Brasília MC

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  5. Farofa, meu Broather,
    estamos adorando os seus relatos. Sua viagem tem uma perspectiva cultural muito bacana. Realmente a presença dos Jesuítas foi muito marcante na na história sulamerica. "Show e bola"! Como diria nosso irmão Beto Gaucho - rsss
    Quanto às reminiscências como padre jesuíta, bem que isso poderia dar um livro, hein? Saudade de sua narrativa do A Expedição Solar...
    No mais, meu amigo, bom retorno. Ca te esperamos com abraços fraternos e muita curiosidade sobre mais esses kms rodados. E que a solidão da estrada sempre te oportune pensamentos inspirados e a reflexão necessária para sua evolução pessoal.

    grande abraço do GG

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  6. A motocicleta é a nossa razão de viver.

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